A OAB/PE por meio da Comissão de Igualdade Racial e a Abayomi Juristas Negras criaram em 2020 a MEDALHA ESPERANÇA GARCIA para honrar as grandes líderes e visionárias que inspiram encontros preciosos, que promovem o aquilombamento entre juristas negras.
Apresentando brevemente a Abayomi Juristas Negras – trata-se de uma Coletiva de Juristas negras que tem como missão auxiliar mulheres negras a ingressarem no sistema de justiça, por meio de mentoria para concurso público e OAB. É possível dizer que são mais do que um preparatório para mulheres negras ocuparem cargos importantes nas carreiras jurídicas. Sendo, portanto, um quilombo onde se encontra capacitação, aperfeiçoamento, empoderamento, tudo para enegrecer em espaços de poder e saber.

Esperança Garcia é considerada para essa coletiva de Jurista Negras a Primeira Advogada Negra do Brasil, ela que com sua força e saber ancestral escreveu o primeiro habeas corpos, pedindo socorro ao governo em razão dos maus tratos que tanto ela quanto suas companheiras e seus filhos sofriam.
A carta de Esperança foi encontrada em 1979, no Arquivo Público do Piauí, pelo historiador Luiz Mott. A descoberta de sua reivindicação fez dela símbolo da luta por direitos e da resistência negra.
Em 2021 fizemos a 3 edição da Medalha, onde foram homenageadas 03 importantes personalidades negras que a vida toda se doaram em pró da Igualdade Racial e de Gênero

Então foi nesse cenário que no dia 21 de julho Bernadete Lopes da Silva, nascida em Iguaracy e que morou por muito tempo no distrito de Albuquerque Né, município de Sertânia e que sempre norteou sua vida na luta contra o racismo, foi agraciada com a medalha para mulheres que se destacam na luta contra o racismo estrutural, é a medalha Esperança Garcia.
A medalha foi entrega pelos integrantes da OAB e homenageia a mulher que simboliza o espírito da advocacia. Como mencionado acima, Esperança foi uma mulher escravizada que conseguiu fazer uma petição com o intuito de conseguir direitos e pedir que ela não fosse maltratara.
Em 1770, Esperança Garcia escreveu uma petição ao governador da Capitania em que denunciava as situações de violências pelas quais, seus filhos e suas companheiras passavam e pedia providências e a entrega dessa medalha vem para agraciar aquelas que em seu dia a dia lutam por melhores dias para esta comunidade e Bernadete Lopes, recebeu a comenda fazendo justiça por esta luta incansável em prol daqueles que diuturnamente assistem e sentem seus direitos suprimidos.
O Tribuna do Moxotó, ao mesmo tempo que parabenizou essa sertaneja arretada, guerreira e filha do Pajeú/Moxotó, também aproveitou para conversar com ela sobre a importância de receber tão importante comenda.
E a Bernadete gentilmente nos falou que essa é a segunda medalha da OAB que recebe na história da sua vida. A primeira, segundo ela, foi em 2015 e a outra exatamente essa ‘esperança Garcia’.
Ela pontua que é de fundamental importância que as pessoas leiam um pouco sobre essa mulher Teresa Garcia num tempo que todo mundo achava que maltratos, escravidão, era normal, numa carta fantástica que ela fez. ‘Você imagina minha emoção por que essa medalha, uma medalha conjunta da comissão da igualdade racial da OAB/PE que 2015 eu ajudei a essa comissão, mesmo não sendo advogada de profissão e hoje você ver um número enorme de mulher jovens negras advogadas ocupando espaço nessa entidade, na casa que é a casa da cidadania, no entanto, em sua história nunca teve tantas negras ocupando cargos e a importância maior disso é porque você chega ali ver o auditório lotado e a primeira coisa que você pensa: “valeu a pensa tudo que a gente passou, tudo que a gente sofreu para construir as veredas que hoje se tornam estradas e não se pode deixar de pensar o quão importante foi você se colocar contra o racismo, você não pode deixar de registrar a importância das cotas, a importância do PROUNI, a importância do FIES”, disse Bernadete, lembrando de todas as conquistas sociais vivenciadas hoje no Brasil.
Como uma grande entusiasta na questão das cotas, Bernadete Lembra as vozes que eram contra essa conquista quando alguns diziam que a medida aumentaria o racismo, outros diziam isso vai modificar as qualidades dos cursos, ou seja, vai diminuir a qualidade dos curso e no entanto, já há vários livros provando que a qualidade dos curso se manteve e as pessoas que entraram por cotas tiveram um desempenho fantástico. “Prove-se então que não era isso que abalaria para cima ou para baixo o racismo, a gente continua sendo um país racista e a gente só muda quando a gente muda a estrutura, porque o racismo no Brasil é estrutural, porque é uma sociedade que se formou, que se fortaleceu em cima da escravidão”, observou a ativista Bernadete.
E falando sobre os tempos atuais, tempos confusos referentes a tantas conquistas das minorias sendo muitas vezes castrados e questionados, Bernadete faz a seguinte observação com relação sua conquista com essa medalha: “Nesses tempos em que o chefe maior do Estado não tem nenhuma cerimônia de contar suas falar e posicionamentos racistas, homofóbicos, etc. Eu, inclusive, sempre mostrei leve preocupação, porque essa foi a terceira homenagem que recebo nesse ano, vou receber mais uma no dia 30, porque esse mês é o mês é considerado o mês da mulher negra latina americana e caribenha, e aí eu me perguntei Meu Deus será que eu vou morrer? Porque as pessoas começam a lhe depois que morre, mas felizmente ao longo da minha vida eu tenho recebido homenagens, então é uma emoção imensurável e isso só aumentar a sua responsabilidade. se você é referência você tem que continuar a sua luta enquanto viver, enquanto você respirar, enquanto puder se mover para melhorar os dias das pessoas. Tem uma música que Bethânia canta que tem um trecho que diz: “vou aprender a ler para ensinar meus camaradas”, isso é o lema da minha vida , o que eu aprendo eu ensino e se chego em qualquer cargo eu o coloco a disposição para melhorar a vida dos outros, dos que não tiveram as mesmas oportunidades, os mesmos apoios que tive, porque quem está na frente tem que dá a mão para quem está chegando e isso eu tenho feito na vida”, disse mostrando toda emoção Bernadete.
A homenagem, portanto, é merecidíssima, pois trata-se de uma pessoa que vem lutando com todas as forças para ver os direitos dos negros e de todas as minorias sendo respeitados. A Bernadete nossa homenagem enquanto professor, jornalista e mestre em Ciências Sociais, já que temos nela uma verdadeira referência na luta contra qualquer tipo de injustiça.
Vida longa a essa guerreira!
Veja outra matéria publicada no Tribuna do Moxotó sobre homenagem recebida por Bernadete Lopes. Clique aqui.
E em homenagem a Bernadete Lopes uma poesia do grande poeta Rildo Mariano:
ZUMBI DO PALMARES
ZUMBI DO BRASIL
INVADIU AS SENZALAS
ESTUPIM QUE EXPLODIU
LUTOU PELO OS NEGROS
E SUA NAÇÃO
ZUMBI É FESTEJO
ZUMBI É LIBERTAÇÃO.
Rildo Mariano.
Assista toda cerimônia da entrega logo abaixo no vídeo.
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