MAIS UMA VÍTIMA DENUNCIA PROFESSOR ACUSADO DE ABUSAR SEXUALMENTE DE CRIANÇA: ‘ME SENTI DESTITUÍDA DA MINHA HUMANIDADE’

Uma nova vítima denunciou o professor Francisco Nery Alves da Silva Neto, de 34 anos, por abuso sexual, na tarde desta segunda (15). O caso aconteceu em 2016, mas apenas agora a mulher, que pediu para não ser identificada, teve coragem de registrar a denúncia, após ter conhecimento de outros casos. Francisco Nery está preso desde o dia 7 de janeiro pelo crime de estupro de vulnerável, após ter sido acusado de abusar de uma criança de 8 anos no bairro da Tamarineira, na Zona Norte do Recife, segundo a Polícia Civil.

“Ninguém quer se sentir tratada como coisa. E a gente sente no toque quando nosso corpo está sendo invadido. Então demorou muito tempo. Eu faço terapia há sete anos e lembro que na época não soube entender por que estava tão desconfortável. (…) Me senti destituída da minha humanidade, tratada como uma coisa”, disse a vítima, em entrevista à TV Globo.

A vitima disse também que o abuso aconteceu num momento em que não havia outras pessoas no mesmo local.

“Ele escolhe justamente momentos em que não tem ninguém ali, sabe? Para se mostrar violento. Porque ele é violento. Mas ele é violento sempre, sem nenhuma testemunha”, disse.

Segundo a advogada Maria Júlia Leonel, que representa a vítima, outras mulheres a procuraram para relatar abusos por parte do homem, praticados desde o ano de 2015, com pessoas de diferentes idades, inclusive menores de idade.

A advogada explicou que as mulheres estão formalizando as denúncias, após saberem do abuso sexual da menina de 8 anos, que levou à decretação da prisão do professor.

“Tem vítimas mais novas, crianças, adolescentes e mulheres mais velhas também. Esses casos acontecem desde 2015. Em 2018, houve uma movimentação de mulheres, só que elas não estavam instruídas juridicamente e foram desestimuladas, infelizmente, na própria delegacia. Muitas delas não deram continuidade à formalização do processo. Se naquele momento aquelas mulheres tivessem sido ouvidas, talvez essa criança não tivesse sido vítima”, afirmou Maria Júlia Leonel.

Outro caso, denunciado em 2020, tramita em segredo de justiça e teve uma audiência de instrução realizada em maio de 2023. O processo foi arquivado dois meses depois e desarquivado no mês seguinte.

Entre os aspectos que podem ter feito as mulheres desistirem de levar à frente as denúncias, segundo a advogada, está a forma como a sociedade vê os crimes de violência sexual e que as mulheres acabam sendo julgadas e questionadas “se de fato são vítimas”.

“É como se o estado precisasse que aquela vítima fosse extremamente violentada, sofresse violência física, para que fosse configurada a violência sexual. No entanto, a maior parte desses crimes vão acontecer na ausência de testemunhas, obviamente. E muitas vezes a gente não vai ter a materialidade da prova. Muitas vítimas deixam de fazer a ocorrência porque elas acreditam que não têm provas. No entanto, o depoimento delas é extremamente importante. Quando a gente tem várias mulheres, que não têm nenhuma conexão entre si, falando de um mesmo acusado, de um modus operandi que é exatamente igual; sim, o estado deveria ter dado um ouvido melhor para essas mulheres”, argumentou advogada Maria Júlia Leonel.

O g1 entrou em contato com a defesa de Francisco Nery, que disse que o processo corre em segredo de Justiça.

Importância de denunciar

O delegado Geraldo Costa, da Delegacia de Crimes Especializados contra a Criança e o Adolescente, alertou para a necessidade de registrar as denúncias de abuso sexual como forma de evitar que novos casos se repitam.

“A maioria dos crimes acontece no âmbito familiar. É importante uma escuta especializada. Em Pernambuco, todas as delegacias de estado têm um policial treinado para atender crianças e adolescentes”, disse.

Geraldo Costa explicou também que, após a Lei Joana Maranhão (Lei 12.650/2012), quando os abusos acontecem quando a pessoa é menor de idade, a prescrição do crime começa a contar apenas quando a vítima completa 18 anos.

O professor Francisco Nery Alves da Silva Neto foi preso em 7 de janeiro após ter sido acusado de abusar de uma criança de 8 anos no bairro da Tamarineira, na Zona Norte do Recife, segundo a Polícia Civil.

O crime foi denunciado pela mãe da criança, que contou ao g1 que o homem dava aulas de artes e educação física e que os abusos aconteceram durante duas aulas.

“Minha criança gostava muito dele porque ele é uma pessoa extremamente cativante para crianças. Do nada, ela contou que ele a massageou. Ele fez uma vez, durante uma aula, e outra vez, também em aula. Na segunda, [a vítima] falou: ‘Tio Chico, você está pegando na minha parte íntima’, e ele respondeu: ‘Mas você não disse que gostou?'”, disse a mãe.

A mulher também relatou que, assim que soube do caso, foi ao Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA), no bairro da Madalena, na Zona Oeste do Recife.

g1 Pernambuco

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