Por Esequias Cardoso*
A PEDIDO DOS NOSSO LEITORES ESTAMOS REPUBLICANDO O ARTIGO ABAIXO
As eleições para presidente, governador, deputados e senadores se aproximam e municípios brasileiros, em particular, o município de Sertânia, começam a receber aqueles políticos que buscam se a reeleição ou tentam se projetar com candidatos, e ao visitarem esses municípios, trazem consigo promessas renovadas ou até dinheiro para oferecer aos “cabos eleitorais” para que estes “alimentem” seu “gado”, tal qual faziam os coronéis na república velha no inicio do século passado.
Eram os famosos os currais eleitorais, onde funcionava a política do assistencialismo, a famosa política dos coronéis, modelo que estava longe de ser realmente a POLÍTICA pensada pelos gregos, a política feita para o bem da coletividade, com olhar para o social.
Nas eleições para prefeito e vereador no município de Sertânia vimos alguns fatos um tanto estranhos. Deputados que arrastaram votos do eleitorado sertaniense, alguns sequer apareceram por aqui, outros deram às caras duas ou três vezes, aqueles ligados ao governo estadual e apoiado pelo então candidato a reeleição Ângelo Ferreira, Gonzaga Patriota e Diego Morais e tantos outros que também receberam votos, usaram a pandemia como desculpa e apareceram pouco.
Gonzaga Patriota, que cede sua rádio para que o prefeito use e abuse dos microfones para fazer sua permanente propaganda eleitoral já há quase 19 anos, quase não apareceu, aliás pouco aparece por aqui, talvez ache, exatamente por isso e por poucas emendas que envia, que não tem obrigação de visitar seu cativo eleitor, já que seu “curral” está seguro através da assistência “política” que presta ao seu principal cabo eleitoral.
Salutar lembrar ao nosso leitor que a esposa do prefeito Ângelo Ferreira, a ex-prefeita Cleide Ferreira, até um dia desse era funcionária do gabinete do referido deputado, isso por anos, valendo frisar que mesmo antes da pandemia ela trabalhava em casa (segundo o deputado Gonzaga Patriota, tudo isso é legal, pois é uma prerrogativa dos deputados, ter assessores morando fora de Brasília e sendo funcionários nos seus gabinetes, pode até se legal, mas é imoral) e até ganhava gratificação acrescido ao salário por isso.
“Seu curral ta garantindo, seu gado não foge, é obediente, por isso não precisa nem vim tanto aqui”, disse ironizando um eleitor atento sobre o deputado federal Gonzaga Patriota. Já Diogo Morais, que em show de Bel Marques, o ano passado, doou milhares de máscaras de proteção para aquele artista distribuir na Bahia, em Sertânia não há notícias de que fez essas doações, apesar de ter recebido milhares de votos, mas mesmo assim, se tiver novamente o apoio do prefeito, certamente levará alguns milhares de votos (lembram do curral eleitoral dito acima?).
Bom ter prestígio e quando é dado pelo povo, melhor ainda, mas é péssimo não investir nas melhorias desse mesmo povo que lhe prestigiou e que o possibilitou que este mesmo político empregasse alguns dos seus muitos familiares, seu parentes, aderentes e amigos mais próximos, ruim ver esse mesmo povo continua ano após ano sem saúde decente, penando de hospital em hospital, morrendo a míngua, enquanto aqueles que votou, tem saúde e assistência e abundância. É sem dúvida nenhuma a falência da política.
Já no lado da oposição, hoje um cadáver insepulto, a coisa é mais feia ainda. Dividida, têm vários deputados, mas quase nenhum “comprou a briga” nas eleições majoritária municipal, a oposição ficou órfão nesse sentido, e só veio mostrar que em Sertânia, mais do que nunca temos uma oposição desunida, desorganizada e acéfala, onde o que reina é o “cada um por si e Deus por todos”.
Hoje temos vereadores falando línguas diferentes e partindo para se aliar ao poder municipal, talvez tentando sobreviver politicamente e para fazer assistencialismo eleitoral permanente e acha que para isso precisa sim está aliado ao poder municipal, dando até uma de “papagaio de pirata”, como fez o vereador Junhão Lins, dias atrás, quando estranhamente foi “convidado” pelo prefeito Ângelo Ferreira para “tirar” uma foto ao lado dos “Ferreiras dos Santos” entregando uma viatura comprada com uma emenda do deputado André de Paula, apoiado aqui em Sertânia pelo vereadores da oposição, mas estranhamente somente o afável Junhão foi chamado para as fotos.
O resultado foi aquele que você eleitor já conhece. A visita dos poucos deputados que levaram votos dos “boca preta” durante às eleições nada trouxeram de ajuda, “só conversa”, como disse um eleitor de Luiz Abel à época. Isso apesar dos inúmeros apelos dos militantes dessa oposição para que ajudassem à majoritária, esses deputados se ajudaram, ajudaram apenas seus “cabos eleitorais” candidatos a vereador, só isso. Obras e ações estruturadoras nenhuma.
Daí fácil deduzir diante desse cenário os motivos de Sertânia continuar sendo o que é. Há anos está no que está, sendo, inclusive, motivo de discurso do ex-prefeito Ivan, que em momento de alta sensatez e lucidez política disse que as coisas em Sertânia andam muito devagar e que não saber se ainda poderia ser chamada de “princesinha do Moxotó” e que as coisas aqui precisam andar mais rápido.
O fato é que apesar de termos praças sendo construídas, ruas asfaltadas e calçadas, não dispomos de hospital digno e pronto para receber doentes de média gravidade, sem uma UTI, sem bloco cirúrgico com raio x deixando a desejar, sendo motivo de chacota e apelidado de “Hospital Rodoviária”, tudo isso apesar dos mais de 5 milhões recebidos para o combate a COVID-19 e de verbas recebidas para a saúde mês a após mês, tudo isso mostra como está “funcionando”a política no município de Sertânia. Com 13 vereadores praticamente calados e sendo a maioria deles vergonhosamente subserviente ao poder municipal, marionetes levados pela ânsia de ser poder sempre.
É público e notório que a POLÍTICA em Sertânia (talvez também no Brasil todo, mas moro em Sertânia e retrato a minha realidade) sempre foi baseada no assistencialismo, com resquícios da política antiga baseada no favorecimento econômico e até talvez na compra de votos, que proporciona prestígio a apenas alguns poucos dos nossos políticos. É a política vergonhosamente feita de forma individualista, que não observa à coletividade.
Enquanto isso o povo vive a mercê da sorte, tendo seus filhos fora de Sertânia, muitas vezes sem nenhuma condição financeira para voltar após receber alta hospitalar depois de ganhar bebê, já que foi ter seu filho longe do seu domicílio. Realidade dura que não sensibiliza nem um pouco a nossa classe política, que no conforto do seu lar palita, os dentes diante de uma mesa farta, empregando seus parentes e passeando em seus carrões, enquanto esse mesmo povo, sobretudo, o mais carente, continuará assim, ano após ano, afinal, como gado obediente, continuará a receber visitas dos “seus” deputados para, nas eleições, levantar a bandeira e nele votar novamente num ciclo vicioso e perverso.
Tudo nos faz lembrar da célebre frase de Nicolau Maquiavel quando disse: ”Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!”.
Triste realidade.
Até quando??
“A civilização é a longa e fascinante história da libertação do homem. A liberdade é o roteiro da civilização. Toda invenção é triunfo da libertação humana. Com a roda, o homem começou a libertar-se do espaço e do tempo; com a agricultura, do nomadismo e da fome; com a medicina, da doença; com a casa, a roupa e o fogo, das intempéries, do frio e das feras; com a escola, da ignorância; com a sociedade, da solidão; com a Imprensa, o rádio e a televisão, da desinformação; com a democracia, dos tiranos.” (ULYSSES GUIMARÃES)
*Esequias Cardoso é professor concursado da rede estadual de Pernambuco, graduado e pós graduado em História e pós graduado em Gestão e Coordenação em Educação e Mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Campina Grande, Campus Sumé/PB.
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